Como se forjam Caveiras: a Tropa de Elite
Como treinar um homem para que se torne um combatente? Como
fazer com que ele resista a fome, ao frio, intempéries, frustrações,
medo e tudo aquilo que corrói o psicológico e o físico de um um ser
humano no campo de batalha, onde sua vida está em risco?
É simples, leve-o ao limite. É nisso que se baseia um curso de Operações Especiais.
Enfrentar a morte… e vencer.
Grande parte dos cursos desse tipo têm em seus brevês o símbolo da caveira com uma faca, ou outro objeto, cravada no crânio.
Esse simbologia representa a vitória sobre a morte. Este é um dos
conceitos que são pregados durante todo o curso. Fazer o combatente, ou
aspirante a “caveira”, crer que é capaz de enfrentar a morte e sair
vitorioso é parte da filosofia que deve ser absorvida por sua
personalidade para que seja capaz de cumprir as mais difíceis missões.
Na verdade, a grande diferença existente nos demais cursos para o de
Operações Especiais é que neste último não são apenas as técnicas e a
preparação física o foco de treinamento, mas também o fortalecimento da
psique por meio de simbologias (como a caveira) e outros artifícios como
um vocabulário próprio, valores específicos e a sensação de fazer parte
de uma família de membros selecionados nos mais rigorosos testes.
Ou seja, um soldado treinado em Operações Especiais é diferente dos
demais, mesmo que apenas no psicológico – e isso faz toda a diferença.
Geralmente os aspirantes ao curso já são atletas, pois passam por uma
seleção rigorosa, na qual sua capacidade física é levada ao extremo.
Durante o curso, porém, toda essa capacidade é apenas um dos atributos
requeridos. Imaginem privação de sono, fome, treinamentos intermináveis,
terror psicológico e a necessidade de estar sempre alerta para o perigo; isso é o cotidiano de um curso dessa natureza.
De que vale a técnica se na hora do combate (em meio a tiros e
ameaças reais) não agirmos, se imergirmos em estado catatônico pondo em
risco a vida de companheiros que contam com nosso apoio? É por isso que o
curso deve preparar o homem para a pior das situações.
Como funciona o treinamento especial
Durante o curso não há graduações ou patentes. Todos os candidatos
são colocados no mesmo patamar, como candidatos, independente das
funções que desempenham em sua corporação ou tempo de serviço.
Exercícios intermináveis pela noite, marchas que
duram dias, frio, fome e sono… Misturam-se a instruções de sniper,
emboscada, defesa pessoal, conduta de patrulha, montanhismo,
sobrevivência no mar, primeiros socorros, armamento, situações com
reféns e diversas outras situações de risco e disciplinas pertinentes.
Durante o curso os candidatos dormem em qualquer lugar, comem quando
tem a oportunidade e sua única preocupação é a sobrevivência. Existe um
jargão que reflete bem esse pensamento:
“Se mandarem sentar, deite.
Se mandarem deitar, durma.”
Ou seja, aproveite todo e qualquer momento de descanso, você não sabe quando terá outro.
Um operações especiais deve ter um psicológico inabalável e um
condicionamento físico de atleta. É lógico que o fator sorte também
conta muito, afinal ninguém está a salvo de ficar doente durante um
curso tão árduo e longo. A duração de um curso de operações especiais
varia bastante, mas geralmente é entre 6 e 8 meses.
Os cursos existentes no Brasil
Eles existem em diversas organizações policiais e militares. No Brasil podemos citar alguns, como o Comandos,
um curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, sem dúvida um
dos mais difíceis do mundo. Ele é seguido pelo curso de Forças
Especiais, no qual os caveiras precisam demonstrar ainda mais sua
capacidade física, intelectual e psicológica.
Temos também o COMANF, da Marinha Brasileira, com ênfase na parte de sobrevivência no mar, e o COESP, da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, com ênfase no combate urbano.
Outras polícias militares do Brasil também possuem cursos de
operações especiais, como a da Bahia e de São Paulo, entre outras. O
curso mantém um padrão internacional de exigência. Podemos encontrar
este tipo de curso em outros países, como a Colômbia, com quem as
polícias militares e o exército brasileiro mantém convênio.
Não sou formado em operações especiais. Mas durante o curso de Formação de Oficiais fomos convidados a realizar um estágio com o Batalhão de Operações Especiais – o BOPE.
Isso não se compara com o verdadeiro Curso de Operação Especiais
(COESP), mas já dá um aperitivo do que pode se esperar em um COESP.
Confesso que não é nada fácil. Lembro da adrenalina em alta o tempo
todo, da caminhada interminável, do frio e das instruções. O cansaço já
fazia parte do nosso corpo e a sensação de alerta se refletia nos
olhares assustados de todos. Sem dúvida este é uma experiência para
poucos…
http://www.youtube.com/watch?v=QGQLvKI8c1M
| “Passaram 20 segundos, 02! E o seu coturno que tá desamarrado, seu animal?”
Campo de concentração: o mito
Alguns caveiras mais antigos contam que, em sua época, ao término do
curso de operações especiais, os candidatos eram levados a um lugar
deserto, similar a um acampamento militar, onde tinham de se livrar dos
instrutores, que os levavam ao limite da resistência humana com todo
tipo de torturas. Segundo relatos, que podem ser reais ou não, eles
passavam por torturas como choques elétricos e afogamentos. Seria como uma espécie de iniciação para os caveiras.
Na realidade, entretanto, não há nada comprovado sobre isso. Podemos,
sim, crer que as provações nesse tipo de treinamento são extremas.
Mulheres como Operações Especiais
De fato, a maioria dos cursos de Operações Especiais não chegam a
mencionar a exclusividade para o sexo masculino. Todavia a exigência
física seria a mesma para ambos os sexos, afinal trata-se da busca de
moldar o combatente para ser capaz de cumprir as mais difíceis missões
existentes, independente de ser homem ou mulher.
Até o presente momento não tenho conhecimento de que uma mulher tenha obtido sucesso em completar um curso destes.
Cursos de Elite
http://www.youtube.com/watch?v=ON0PF_QxPgY
| Curso do CIGS: a maioria desiste.
Existem outros cursos que podem ser considerados de elite, como o CIGS – Guerra na Selva, do Exército Brasileiro, e o GRUMEC,
da Marinha Brasileira. A cobrança é tão alta quanto no de Operações
Especiais, sendo mais específicos ainda quanto ao tipo de terreno e
técnicas aplicadas.
Conta a lenda que existem certas rivalidades entre os cursados neste
cursos e os combatentes de operações especiais. O fato é que ambos são
combatentes de elite: é difícil precisar qual deles é o melhor, eu diria
que depende de diversos fatores como o terreno de combate e o tipo da
missão.
É importante esclarecer que operações especiais e agentes secretos
(ou de inteligência) não são a mesma coisa. Embora diversos agentes
secretos sejam oriundos das forças especiais. Mais tarde comentarei
sobre estes agentes, seu treinamento, forma de atuação e alguns mitos.
Até mais.
Thyago Ferreira
Oficial da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
Amante de armas, explosivos, operações de inteligência, guerra
eletrônica e coisas do gênero. Carioca, flamenguista, sonhador e
escritor nas horas vagas. No Twitter, @ferreirinha_rj.
http://papodehomem.com.br/como-se-forjam-caveiras-a-tropa-de-elite/